Técnicas

Com quantas malhas hei-de começar?

-Com quantas malhas hei-de começar o meu trabalho?

Esta é provavelmente das perguntas técnicas que mais oiço por cá.

Não há de facto uma resposta imediata a esta perguntas mas sim, um processo nada complicado de cálculo!

A primeira coisa que temos que pensar, é que cada pessoa tem uma tensão própria ao tricotar. Por vezes, durante os cursos, observo os trabalhos realizados com as mesmas agulhas e lãs, e a diferença de tensão é muito grande. Daí, 40 malhas com a minha tensão, poderão corresponder a uma largura diferente das 40 malhas da minha amiga.

E então como se faz?

O primeiro passo, será tricotar uma amostra de pelo menos 10cm. Esta amostra é bastante útil. Com ela podemos ver a lã trabalhada, ver como resulta, ver se gostamos da tensão ou se precisamos de fazer alterações na medida da agulha, usando uma agulha mais grossa se o tecido estiver muito denso, ou uma agulha mais fina, se o trabalho estiver muito lasso…

Quando tivermos a nossa amostra, vamos contar quantas malhas temos nesses 10cm. Para esse efeito, podemos colocar dois alfinetes na zona ou usar uma das réguas de medição que existem para esse efeito.

Poderão encontrá-las nos links abaixo:

Alfinetes

Régua Addi

Régua KnitPro

(Se pretendermos ou precisarmos de um cálculo mais preciso, o ideal seria tricotar uma amostra de 15cm, para contarmos as malhas numa zona fora da ourela e portanto mais demonstrativa do que será o nosso tecido tricotado). As malhas de ourela têm com frequência uma tensão diferente.

E a partir desta relação “x malhas para 10 cm“, podermos fazer todos os cálculos em termos de largura.

Vamos então à prática!

Medi o meu cachecol preferido e quero tricotar um, com a mesma largura – 30cm.

A minha amostra tem 22 malhas em 10 cm.

Faço uma regra de 3:

se tenho 22 malhas para 10 cm

quantas malhas tenho que ter para 30 cm?

22 x 30 a dividir por 10 = 66 malhas

E voilà!

Agora vamos imaginar, que já conheço bem o meu ponto, e sei que tenho uma tensão regular.

Se observar a banda de papel que acompanha o novelo, ela irá indicar-me quantas malhas equivalem a 10 cm, em ponto de meia e na agulha aconselhada.

sts= malhas   rows= carreiras

Passo então à frente a realização da amostra e faço as contas!

Resumindo:

  • Faço uma amostra de pelo menos 10cm
  • Conto o nº de malhas (A)  nesses 10 cm
  • Estabelecida a largura que pretendo para a minha peça, multiplico-a por A e divido por 10

 

Bons cálculos!

Rosinhas de Portugal e Ponto Inglês

Dois dos pontos, que me perguntam mais vezes como se fazem, são o ponto Rosinhas de Portugal e o Ponto Inglês.

As Rosinhas de Portugal, também chamado de Ponto Amora, dão um resultado muito bonito em qualquer tipo de fio, mas gosto especialmente de o ver em lãs mohair, porque o pelinho acaba por preencher os espaços que ficam entre os borbotos. O facto de utilizarmos umas agulhas mais grossas ou mais fininhas, resulta também em diferenças de texturas, que são interessantes de explorar.

Então cá vão as instruções:

 

É necessário termos um nº de malhas que seja múltiplo de 4.

1ª carreira: todas as malhas são tricotadas em liga.

2ª carreira: (tricotamos na mesma malha: 1 meia, 1 liga e 1 meia; tricotar 3 ligas juntas)*, rep*.

3ª carreira: todas as malhas são tricotadas em liga.

4ª carreira: (tricotar 3 ligas juntas; tricotamos na mesma malha: 1 meia, 1 liga e 1 meia)*, rep*.

 

Rosinhas de Portugal

 

O Ponto Inglês é muito interessante porque tem uma aparência semelhante ao canelado, mas não tem o efeito elástico, que não dá jeito nenhum quando por exemplo estamos a tricotar um cachecol.

 

Em relação ao Ponto Inglês, conheço duas versões.

1ª versão, em inglês corresponde ao Brioche Stitch:

É necessário montar um nº par de malhas.

1ª carreira: (1 laçada, 1 malha passada como liga , 1 meia)*, rep*.

2ª carreira: (1 laçada, 1 malha passada como liga, 2 meias tricotadas juntas)*, rep*.

Repetir sempre a 2ª carreira.

 

Ponto Inglês

 

2ª versão a que os ingleses chamam Fisherman´s Rib:

Precisamos ter um nº de malhas que seja múltiplo de 2, mais 3 malhas, na montagem.

1ª carreira: Tricotar todas as malhas em meia.

2ª carreira: 1  liga, (1 malha dupla, 1 liga)*, rep*.

3ª carreira: 2 ligas, (1 malha dupla, 1 liga)*, rep*, 1 liga.

Repetir as carreiras 2 e 3.

Para tricotarmos uma malha dupla, em vez de introduzirmos a agulha na malha que está na agulha, introduzimos na malha tricotada da carreira anterior, ou seja, um pouquinho mais abaixo.

Ponto Inglês

O cós

cós
(provençal cors, corpo)

s. m. 2 núm.
1. Tira de pano que rodeia a cintura ou reforça os punhos e o colarinho.
2. Parte do vestuário onde se situa essa tira.
Quando se faz uma camisola simples, o mais provável é que o cós seja em canelado 1/1 ou 2/2. Isto quer dizer que alternamos uma meia e uma liga ou duas meias e duas ligas.
Ao alterarmos este ponto podemos tornar toda a camisola muito mais interessante e na maior parte das vezes não é necessário nenhum ponto muito complicado.
Temos que ter em consideração a elasticidade que pretendemos nesta zona. Os canelados por regra são bastante elásticos e ajustam a peça.
Por isso o ideal é tricotar uma amostra na lã que pretendemos utilizar e ver como funciona este novo ponto e se gostamos da transição para o jersey.
Uma das opções mais simples é a simpática jarreteira, o ponto dos mil nomes, que é também conhecido por manta de gato, ponto de liga, ponto mousse e ponto musgo. Para o realizar, temos que tricotar no direito e no avesso do trabalho da mesma forma: sempre em meia ou sempre em liga.
Este é um exemplo chamado Twiggy Cardigan, que resulta muito bem.
Outro ponto muito simples e interessante é o Mistake-Stitch Ribbing.
Para o fazer  precisamos de um nº total de malhas que seja múltiplo de 4 + 3.
Por exemplo: 5×4+3= 23 malhas, 7×4+3=31 malhas
m=meia
l=liga
Todas as carreiras: *2m, 2l; terminamos com 2m, 1l.
Outro ponto bonito com rendados é o Double Eyelet Rib.
Neste ponto precisamos de ter um nº total de malhas que seja múltiplo de 7+2.
1ª e 3ª carreiras ( avesso do trabalho ): 2m, *5l, 2m; repetir a partir do *.
2ª carreira: 2l, *5m, 2l; repetir a partir do *.
4ª carreira: 2l, * 2m juntas, laçada, 1m, laçada, 1 m acavalada, 2l; repetir a partir do *.
Repetir estas 4 carreiras.
As tranças e os torcidos no cós têm também um efeito muito bonito.
Deixo aqui dois exemplos nos quais não têm que retirar malhas para agulhas auxiliares, mas qualquer ponto que conheçam resulta de certeza bem!
Canelado Entrançado
Neste ponto precisamos de ter um nº total de malhas que seja múltiplo de 5+2.
1ª carreira ( direito do trabalho ): 2l, *metemos a agulha de trás para a frente entre a 1ª e a 2ª malha e tricotamos em meia a 2ª malha, depois tricotamos em meia a 1ª malha e tiramos as duas ao mesmo tempo, 1 m, 2l; repetir a partir do *.
2ª carreira: 2m, *ignorar a 1ª malha e tricotar a 2ª malha em liga, depois tricotar a 1ª malha em liga e tirar as duas ao mesmo tempo da agulha; repetir a partir do *.
Repetir estas duas carreiras.
Canelado em malhas cruzadas
Neste ponto precisamos de ter um nº total de malhas que seja múltiplo de 4+2.
1ª carreira ( direito do trabalho ): 2l, *ignoramos a 1ª malha e tricotamos a 2ª malha em meia, depois tricotamos em meia a 1ª malha e tiramos as duas malhas da agulha, 2l; repetir a partir do *.
2ª carreira: 2m, *2l, 2m; repetir a partir do *.
Repetir estas duas carreiras.
Puff Rib é um ponto bastante texturado e com algum volume.
Neste ponto precisamos de ter um nº total de malhas que seja múltiplo de 3+2.
1ª carreira ( direito do trabalho): 2l, *laçada, 1m, laçada, 2l; repetir a partir do *.
2ª carreira: 2m, *3l, 2m; repetir a partir do *.
3ª carreira: 2l, * *3m, 2l; repetir a partir do *.
4ª carreira: 2m, * 3 ligas tricotadas juntas, 2m; repetir a partir do *.
Repetir estas 4 carreiras.
As alternativas são imensas!
E porque não usar as Rosinhas de Portugal, os borbotinhos resultam muito bem nestas zonas, ou alguma cor como aqui na chamada Corrugated Rib.
Outra forma de alterar o cós e que resulta bem, é simplesmente fazê-lo mais alto como nas bonitas camisolas dos anos 40.
PS – Desculpem os termos em inglês, mas desconheço as traduções. alguém me pode ajudar? 🙂

Como alterar o comprimento de uma peça depois de terminada

Há algum tempo a Joana B. tinha terminado um chapéu para a irmã, mas quando foi experimentado, chegou à conclusão que seriam necessárias mais carreiras para ficar bem ou seja, seria necessário prolongá-lo alguns centímetros.

Como a maior parte dos chapéus, este tinha sido tricotado da base para o topo, começando pelo canelado e evoluindo para as diminuições na parte superior.

Portanto o que sugeri, foi que eliminássemos a secção do canelado da base, para assim fazer crescer o chapéu no sentido contrário, acrescentando algumas carreiras tricotadas em meia e finalmente algumas de canelado.

Parece efectivamente mais complicado do que é.  Penso que a maior resistência será o ponto de partida, que é meter a tesoura no nosso trabalho e cortar uma das “perninhas” de uma malha. A partir daí é canja!

Como se faz então?

Temos de cortar a tal “perninha” da malha, um dos lados do V, exactamente na carreira acima da secção que queremos excluir.

À medida que vamos puxando o fio, as malhas vivas vão surgindo e apenas temos que recolocá-las de novo nas agulhas.

Quando todas as malhas da carreira estiverem nas agulhas (digo agulhas no plural, porque a Joana utilizou agulhas de duas pontas para tricotar de forma circular), juntamos o fio e continuamos a tricotar.

Abaixo disponibilizei um vídeo onde podem visualizar o processo. Tem no meio partes que estão desfocadas, mas penso que dá para ter uma ideia.

(música de Bon Iver)

[youtube=http://youtu.be/V_-DleK_zYw]