Técnicas

Quinta Tricotada – Fios Orgânicos

Desta vez a quinta afinal foi sexta, desculpem o atraso…

—-

Já estamos bastante familiarizados com a agricultura biológica mas afinal o que é um fio orgânico?

Hoje em dia já podemos voltar a tricotar com fibras ecologicamente responsáveis, como no tempo das nossas avós.

Existem um conjunto de leis e normas que regulamentam os critérios que conferem a um produto, neste caso lãs e algodões, essa qualidade.

A agricultura biológica ou orgânica é holística no sentido que defende uma análise global e um entendimento geral dos fenómenos. É um modo de produção agrícola que respeita o meio ambiente e a biodiversidade, preservando o ecossistema agrícola e respeitando os ciclos biológicos.

A questão prende-se com a forma como as plantas ou animais são criados. Os animais que gentilmente nos fornecem a lã têm de ter uma área de movimentação livre e alimentam-se em pastos orgânicos, não comendo rações geneticamente modificadas. A luta contra os parasitas ou as doenças é realizada através de métodos alternativos aos antibióticos, não sendo utilizadas hormonas sintéticas, vacinas e outras medicações optando por métodos naturais de controle de pragas. As plantas desenvolvem-se sem recurso a fertilizantes, pesticidas  e herbicidas químicos.

Não é utilizada também lixívia ou outros químicos na limpeza dos fios e estes são fiados recorrendo a óleos orgânicos que não sejam à base de petróleo.

Há obviamente muitas razões para recorrer a este tipo de fios. Ao fazermos isto,  estamos a contribuir para a saúde do nosso planeta!

Este tipo de fios também é uma boa escolha para quem tem sensibilidade a químicos.

Quem por exemplo pensa que faz alergia à lã deve ponderar se não fará alergia aos químicos ou óleos  que passam a fazer parte da lã durante a sua produção. E quando falamos desses químicos e no que podem reflectir em nós que os usamos , também obviamente se repercute nos trabalhadores que os manipulam. Este tipo de produção protege as comunidades agrícolas que a produzem quer a nível ambiental quer garantindo que recebem um preço justo pelo seu trabalho.

Os tingimentos destes fios também têm quer cumprir as mesmas normas.

O algodão orgânico da Rowan é inclusive tingido com plantas ou está no estado natural. Algumas das plantas e árvores que tingem estes fios: logwood, casca de carvalho, ameixoeira ou yellowwood.




Por essa razão necessitam de algum cuidado na lavagem e não gostam muito de secar expostos ao sol.

Vamos ser uns crafters mais responsáveis?

Montagens Tubulares

As montagens tubulares são perfeitas para dar início ao ponto canelado. Dão um acabamento perfeito aos punhos das camisolas, cós ou até ao início do cano de uma meia e são bastante elásticos. A primeira versão é mais elástica que a segunda.


1ª Montagem tubular – com fio auxiliar


Penso que esta será a mais conhecida, pelo menos é a que mais vezes me falam aqui na Ovelha e é realizada utilizando um fio auxiliar.

Começa-se então por montar, metade das malhas necessárias utilizando para isso um fio auxiliar, utilizando uma montagem simples (ver vídeo), que em inglês se chama backwards loop cast-on.

De seguida, usando o fio com o qual iremos trabalhar, tricotamos uma carreira de liga e mais três em jersey (meia-liga-meia).

Na próxima carreira ocorre o passo mais importante e que será mais fácil seguir através do vídeo (assim espero…).

Mas basicamente o que teremos de fazer é tricotar uma malha em liga, ir buscar o altinho da 1ª liga tricotada na 1ª carreira com o fio do trabalho, e tricotá-lo em meia, seguindo sempre dessa forma: uma malha de liga, uma malha de meia tricotada na malha de liga seguinte da 1ª carreira. Parece confuso mas não é!

Atenção: não nos podemos esquecer da última liga da 1ª carreira que está na ourela muito escondida! É necessário trabalhá-la também.

Depois poderemos continuar a partir já da próxima carreira num canelado 1/1, tricotando meia/liga alternada.

Cortamos com jeitinho o fio auxiliar e retiramo-lo. Já está!


[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=GS5T8aBaUdw]


2ª montagem tubular – sem fio auxiliar


No último workshop de meias, a Dominique que é italiana referiu esta montagem tubular.

A montagem das malhas é realizada de forma semelhante à montagem provisória n.2 que trouxe na semana passada, mas desta vez sem fio auxiliar.

Dicas que ajudam:

-o fio que está no dedo indicador, apenas faz um movimento de vaivém por baixo da agulha, nunca passa por cima dela

-o fio que está no dedo polegar é o que vai formar as malhas e portanto é o que a agulha vai buscar

Depois de montarmos o número de malhas necessárias, tricotamos 2 carreiras (ou 4 se preferirmos)  da seguinte forma:

– uma malha em meia e uma malha passada em liga com o fio pela frente, repetindo até ao final

Depois poderemos continuar num canelado 1/1.

No final vamos desfazer o pequeno nó do início e retirar o fio (ver vídeo). E já está!


[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=HEtAZGq8JP0]


———————————-

Montagem tubular I –  música de Pascal Comelade

Montagem tubular II – música de Eleni Karaindrou

Quinta Tricotada – Montagens provisórias

Uma montagem provisória (provisional cast-on), como o próprio nome indica, é uma montagem à qual pretendemos voltar mais tarde. Por essa razão é uma montagem que nos permite voltar a ter as malhas vivas e possíveis de voltar a trabalhar.

Por vezes a peça que tricotamos pede uma base que não seja definitiva. Pode também suceder que não estejamos seguros acerca de que borda ficaria melhor, ou ainda se teremos lã suficiente para acabar uma camisola.

Esta montagem permite-nos, depois da peça tricotada, escolher a borda que achamos mais adequada ou caso a lã não chegue, tricotarmos o cós, os punhos  numa cor contrastante. Podemos não saber bem de que comprimento queremos por exemplo umas meias, fazemos uma montagem provisória e mais tarde decidimos!

Esta montagem também é utilizada quando pretendemos coser duas partes usando a técnica do grafting e é bastante utilizada em xailes.

No outro dia, num dos cursos de iniciação ao tricot surgiu a questão, se existe um remate das malhas correspondente a uma determinada montagem, em termos visuais. Voltaremos a esta questão quando falar dos remates mas de qualquer forma, ao fazermos uma montagem provisória, poderemos sempre rematar as malhas na base da mesma forma que as rematamos no topo.

Existem várias formas de fazer uma montagem provisória. Mas nas três que vou deixar aqui, necessitamos de um fio auxiliar. Esse fio deverá ser de cor contrastante, ter a mesma espessura do fio que estamos a trabalhar e devem ser evitados fios que sejam difíceis de desfazer como por exemplo os mohairs. Há quem utilize um fio de algodão por essa razão e porque não feltra.

Daqui podemos concluir que esse fio provisório vai ser retirado posteriormente.


Montagem provisória 1 – Utilizando um cordão em crochet

Fazemos um cordão em crochet com mais malhas do que aquelas que pretendemos mais tarde levantar. Cortamos o fio e passamo-lo pelo interior da última argolinha (sem apertar muito porque mais tarde vamos ter que desfazer). Podemos fazer ainda um nó adicional nessa extremidade para nos indicar por qual dos lados vamos desfazer mais tarde.

Se observarmos o cordão em crochet, de um dos lados tem “V” ‘s e do outro tem uns altinhos (geralmente este lado é o avesso). Será nesses altinhos que vamos levantar as malhas.

Mais tarde basta desfazer o cordão pelo lado do nó, com cuidado para que as malhas que pretendemos passar para uma agulha não se desfaçam, e trabalhá-las como pretendermos.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=X0dh-sijm0Y]

Montagem provisória 2 – Utilizando um fio auxiliar


Nesta montagem precisamos de um fio auxiliar.

Na amostra que realizei:

fio verde – fio do meu trabalho

fio branco – fio auxiliar

Damos um nó apenas para segurar os dois fios  e procedemos como no vídeo.

Para ser menos confuso, ajuda-me pensar que o fio que fica sempre sobre a agulha direita é o do nosso trabalho, portanto neste caso o fio de cor verde. O fio auxiliar, que neste caso é branco fica sempre por baixo. A agulha vai sempre buscar o fio verde.

Depois, apenas temos que trabalhar as malhas montadas como pretendermos.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=R6xDYVHQHNk]

Montagem provisória 3 – Tricotando com um fio auxiliar várias carreiras e mudando para o fio do trabalho


Esta montagem provisória evita diferenças de tensão e protege as primeiras carreiras de forma mais eficaz. Protege-as de se desfazerem e protege-as do desgaste natural de uma primeira carreira que anda no nosso saco de tricot durante algum tempo.

Para a realizar basta montarmos o número de malhas necessárias e da forma que mais gostarmos com um fio auxiliar. Tricotamos algumas carreiras com esse mesmo fio e depois, tal como se fossemos mudar de cor, introduzimos o fio com que vamos tricotar o trabalho.

Mais tarde desfazemos a montagem (esta parte é um pouquinho mais trabalhosa) e puxamos o fio, desfazendo as carreiras que estão tricotadas com o fio auxiliar até uma zona de conforto. Quando chegarmos à cor do trabalho, recolhemos as malhas cuidadosamente numa agulha, e poderemos trabalhá-las como pretendermos.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=FV6z7UQvbis]

————————————————————————————–

Esta Quinta Tricotada afinal acabou por ser uma Sexta… Peço desculpa pelo atraso!

As músicas dos vídeos são Joana Newsom, Laura Veirs e Pascal Comelade.

Quinta Tricotada – Montagem das Malhas III

Esta montagem aparece no livro O Grande Livro dos Lavores como montagem francesa. Nos livros de língua inglesa chama-se Knitting On, Knitted Cast On ou Knit Cast On.

Ao contrário das montagens anteriores, são necessárias duas agulhas para a executar e não é necessário colocar algum comprimento de fio de lado.

Esta técnica é tão simples como tricotarmos uma malha como meia e oferecermos esta malha de volta à agulha esquerda.

Conseguimos com esta montagem uma base sólida e  relativamente elástica, no entanto não a utilizo na base de um canelado pois tem tendência a ficar um pouco solta. Utilizo esta montagem sempre que é necessário acrescentar várias malhas na lateral de uma peça.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=m6Jxhb6SoZs]

——————————————

A música no vídeo é do Andrew Bird e os meus dedos estão uma lástima, a culpa é da jardinagem…